quarta-feira, 9 de setembro de 2009

A mudança climática e a água na América Latina

Nos últimos anos, a humanidade tem visto, de forma cumulativa, as notícias sobre as modificações do clima ocorridas e profetizadas entre cientistas das mais variadas correntes do conhecimento. Na América Latina, mais especificamente, são visíveis o aquecimento e a deterioração dos ecossistemas nos Andes , o branqueamento dos corais no Caribe, os danos causados às zonas costeiras do Golfo do México, a possível retração da Floresta Amazônica e o aumento de desastres climáticos. Estes problemas já somam 2,4 vezes mais eventos ligados ao clima entre 2005- 2007 que os ocorridos entre 1970-1999. De todas essas conclusões, as que mais assustam a comunidade (tanto a civil como a científica) são as que descrevem os possíveis cenários quanto à disponibilidade de água em nosso planeta, mais especificamente nas regiões de pobreza mais caracterizada.

Quando estudamos detalhadamente o ciclo hidrológico, e o colocamos na posição de um dos mais importantes ciclos biogeoquímicos para o equilíbrio do meio ambiente, começamos a compreender quão grave pode ser a falta deste valioso bem ambiental. De todas as fontes de armazenamento e disponibilidade de água em nosso planeta, os oceanos contabilizam o equivalente a 97,3% do total na biosfera. Mas esta água, devido à alta salinidade, torna-se imprópria ao consumo humano. Se formos às calotas polares e glaciais atingiríamos cerca de 2,06% somente de água, contra 0,67% de água subterrânea e 0,01% presente em rios e lagos. O restante, possivelmente 0,08%, estaria em trânsito, sendo considerada uma pequena quantidade diante do total, mas suprindo, decisivamente, as necessidades para a sobrevivência dos organismos vivos e mantendo a produtividade, inclusive dissolvendo a maioria dos nutrientes necessários a este fim primordial da alimentação humana.

Em junho de 2008, o IPCC (Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas), painel da ONU responsável pelo estudo das modificações climáticas em nosso planeta, lançou um relatório intitulado “El cambio climático y el água” em que descreve explicitamente as possíveis implicações dessas mudanças no ciclo hidrológico do planeta. Este relatório deixa claro que as alterações observadas no ciclo hidrológico evidenciam a vulnerabilidade da disponibilidade da água doce no planeta com consequência direta à sociedade humana e aos ecossistemas. Um dos fatos que mais têm chamado a atenção da comunidade científica é o aumento da precipitação em altitudes setentrionais e a diminuição nas áreas que circundam os 10ºS e os 30ºN a partir dos anos 1970, sendo projetado para o século XXI a diminuição da chuva nas regiões subtropicais e nas latitudes médias e baixas, o que nos leva a concluir que regiões secas na atualidade ficariam ainda mais secas. Por outro lado, nas regiões onde a precipitação for intensificada, as populações sofreriam a incidência de cheias e deslizamentos, agravando a situação de risco de muitas comunidades. No geral, segundo o relatório, as questões positivas e negativas destas alterações climáticas quanto à água seriam compensatórias.

Enquanto as modificações climáticas trazem problemas por falta de água, na contramão outros surgem por sua presença em demasia

Mas e a América Latina? Como enfrentaríamos este problema de caráter mundial em uma região marcada pelas diferenças sociais e econômicas? De que forma seremos atingidos por esta resposta natural à ação antrópica desenfreada de tantos anos?


Distinguimo-nos em três diferentes regiões geográficas do continente americano, sendo o México na América do Norte e todas as nações da América Central e do Sul. Gigantes como o Brasil e pequeninos territorialmente como a República Dominicana. Industrializados como o Brasil e o México e outrora de economia extrativista, alta taxa de analfabetismo e rico em reserva de gás natural como a Bolívia. Veementemente com enormes problemas sociais, mas com um potencial natural inigualável, possuímos fortes laços históricos e culturais. Segundo dados do Banco Mundial, cerca de 20% dos latinos viviam no final do século passado com menos de 1 dólar por dia, o que os colocava na posição de miséria mundial.

Um dos primeiros fatores a serem observados na América Latina é a questão da densidade populacional, o que acarreta necessidade de maior produção de alimento, ou melhor, maior produção agrícola, o que necessariamente não se faz sem água de boa qualidade e em abundância. Quase todos os países do continente desenvolvem a agricultura como eficaz meio de desenvolvimento econômico, mesmo que existindo nesta área geográfica uma grandiosa diversidade climática, que vai dos altiplanos andinos à maior floresta tropical do mundo, das ricas regiões agrícolas centrais da América do Sul até regiões de características já algumas áridas (estágios iniciais de deserto no Piauí e Pernambuco) e semiáridas do nordeste brasileiro. Enquanto as modificações climáticas trazem problemas por falta de água, na contramão outros surgem por sua presença em demasia, o que eleva a umidade do solo e desenvolve novas pragas, como as observadas na cultura de milho, batatas e trigo no Peru. Sem sombra de dúvida, podemos vislumbrar para essas regiões situações no mínimo incômodas quanto à mínima disponibilidade de alimento no futuro próximo, devido principalmente às incertezas climáticas de efeito direto sobre o ciclo hidrológico.

Estes fenômenos hidrológicos considerados extremos podem ser destacados entre os anos de 2004 e 2006. Como exemplo, citamos as intensas chuvas na Colômbia (2005), com quase cem mortos e mais de 140 mil atingidos, deslizamentos de terra na Venezuela (2005) devido a fortes chuvas, trazendo quase 70 mortes e 175 mil atingidos e, talvez, a de maior projeção internacional, devido a seu valor ambiental, a seca na Amazônia (2005) associada às altas temperaturas do Atlântico Norte tropical. Quanto às geleiras, fica cada dia mais clara a diminuição de suas áreas na Bolívia, Peru, Equador e Colômbia, estando muitas delas consideradas de pequeno tamanho, já praticamente desaparecidas, o que acarreta consequentemente menor disponibilidade de água potável às comunidades beneficiadas por seu natural derretimento anual.

Confiantemente, em um grau de certeza médio para os pesquisadores do IPCC, após profunda análise dos modelos matemáticos estudados e considerados, a temperatura na América Latina se alterará entre 1º e 6ºC até o ano 2100, sendo caracterizados como anomalias negativas e positivas, aumentando as secas na América Central e a precipitação nas regiões tropicais e outras de menor intensidade na América do Sul. Todos os modelos são categóricos em evidenciar o aumento de dias com maior intensidade de umidade no sudeste do Brasil e na Amazônia Central e uma diminuição destes dias no nordeste brasileiro, ou seja, menor número de dias de chuva por ano.
Todas essas estimativas só levam em direção à população latina que sofrerá em maior ou menor incidência os efeitos destas mudanças climáticas. Para concluirmos uma ideia mais concreta, o relatório chama de estresse hídrico o fato de a população não dispor de água em número suficiente para o abastecimento humano, estimado em no mínimo 1.000m3 anuais por habitante. Os dados analisados estimam que este número possivelmente esteja entre 12 e 81 milhões na década de 2020 e entre 79 e 178 milhões em 2050. Essa alta demanda por água decorre em sua maioria pelo uso indiscriminado na agricultura, com a poluição de mananciais e água subterrânea, e pelo crescimento demográfico observado nas grandes cidades do continente latino-americano.

Outras perguntas nos cabem. Como nos adaptaremos a esta situação preocupante? Nossas políticas públicas são eficazes ou inexistem?

Para que possamos responder essas questões, vários fatores têm de ser observados, tais como: baixo PIB da maioria dos países, alta população em áreas de risco (inundações, deslizamentos e secas extremas) e falta de políticas públicas seguras e claras para o enfrentamento destas questões climáticas. Não podemos deixar de levar em conta a necessidade constante de criação de meios de sobrevivência digna a essas comunidades, principalmente no que diz respeito à alimentação e ao acesso à água. Organismos internacionais de cooperação, como o BIRD, têm investido de forma considerável em comunidades em risco de desastres ambientais com a construção de novas casas, recuperação de áreas de deslizamento, organização de novas práticas agrícolas para melhor aproveitamento da água em regiões áridas e até mesmo saneamento básico, o que reflete consideravelmente na saúde destas populações. No Brasil, a ASA (Articulação do Semiárido) e o Ministério do Meio Ambiente, com o seu programa de construção de cisternas para captação de água da chuva, distribuem a esperança para milhares de nordestinos residentes em locais de difícil acesso à água com nível de potabilidade e até disponibilidade.

Mesmo que nossas políticas públicas não sejam claras e nem eficazes, a AL deve coletivamente oportunizá-las como elemento central nos critérios de adaptação às já visíveis mudanças no clima. Os governos buscam, na maioria das vezes, obras ou ações de vulto, mais sem tanta objetividade e clareza, como ocorre com a transposição do rio São Francisco. Sem dúvida, necessitamos de uma nova ordem no processo de disponibilização da água, mas mais ainda na conservação deste valioso bem. Para que pudéssemos modificar esta estrutura, teríamos que investir grandiosas quantias na reestruturação de nossos sistemas captadores e distribuidores em várias cidades e de diferenciados portes populacionais. Nossas políticas na maioria das vezes respondem a extremos e desastres ocorridos e não à prática de redução da possibilidade destes acontecimentos, atingindo principalmente populações dentro do grau de pobreza.

Sobe para 28 o número de cidades em situação de emergência 9 de setembro de 2009

Santa Catarina tem 28 municípios em estado de emergência e uma cidade em estado de calamidade pública por causa do temporal que atingiu o Estado na terça-feira, segundo balanço divulgado pela Defesa Civil nesta quarta-feira. São 81.021 pessoas afetadas, 1.347 desabrigados, 16.049 desalojados, 286 deslocadas, 170 feridos e quatro mortos.
As cidades atingidas e que decretaram emergência são: Abelardo Luz, Água Doce, Barra Velha, Calmon, Coronel Martins, Corupá, Dionisio Cerqueira, Entre Rios, Formosa do Sul, Galvão, Ipuaçu, Irani, Itaiopolis, Lebon Regis, Monte Castelo, Ouro Verde, Passos Maia, Rio das Antas, Santa Terezinha, Santa Terezinha do Progresso, São Bernardino, São Domingos, São José do Cedro, São Miguel da Boa Vista, Schroeder, Tigrinhos, Vargeão e Vargem Bonita. Guaraciaba está em estado de calamidade pública.
O município de Guaraciaba - onde quatro pessoas morreram e outras 64 ficaram feridas - decretou estado de calamidade pública.
Tornados - Mas não foi apenas a chuva que espalhou estragos entre os catarinenses. O Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri/Ciram) e a Defesa Civil confirmaram que pelo menos três cidades foram atingidas por tornados na noite de segunda-feira: Guaraciaba, Salto Veloso e Santa Cecília. Os ventos chegaram a 120 km/h e duraram cerca de uma hora e meia, destruindo casas, destelhando escolas e galpões e deixando matas nativas totalmente arrasadas.
Tragédia - O temporal e os ventos fortes que atingiram as cidades catarinenses trazem à memória a tragédia que o Estado viveu entre os últimos meses de 2008 e o início de 2009. Ao todo, 135 pessoas morreram por causa dos temporais, principalmente em municípios da faixa litorânea do Estado.
(Com Agência Estado)