quinta-feira, 7 de maio de 2009

O céu é verde

A ideia dos jardins suspensos floresce em cidades cujas alturas permitem esses espaços naturais.
Por Verlyn Klinkenborg



Foto de Diane Cook e Len Jenshel Uma coroa natural orna o edifício da prefeitura de Chicago, amenizando a vida - e a temperatura - numa cidade famosa por seus prédios de aço e alvenaria. O prefeito Richard Daley citou Chicago entre as principais cidades que adotam os telhados verdes na América do Norte.
Acima de tudo, os telhados ecológicos são habitáveis. Eles recuperam um espaço hoje desperdiçado e o transforma em uma rede de ilhas verdes elevadas que se conectam com as áreas de vegetação externas às manchas urbanas. Espécies de todos os tamanhos - formigas, aranhas, besouros, maçaricos, corvos - passam a frequentá-los. Em Zurique, na Suíça, uma cobertura ecológica de 95 anos é um refúgio para nove espécies de orquídea, as quais haviam sido erradicadas dos campos em torno da cidade quando foram transformados em áreas agrícolas.

Os defensores das biocoberturas argumentam que já resolveram a maioria, se não todos, dos desafios técnicos levantados com a introdução de uma camada biológica no topo dos edifícios, seja qual for a dimensão da área. Embora o custo médio de instalação de um telhado ecológico seja de duas a três vezes maior que o de um telhado convencional, ele sai mais barato no longo prazo, em função sobretudo da economia de energia. A vegetação também protege a cobertura da radiação ultravioleta, aumentando sua vida útil. E requer cuidados específicos, similares à manutenção mínima de um jardim.

Para a difusão desse tipo de cobertura, ainda resta, porém, superar desafios filosóficos, vários dos quais relativos à própria concepção do que deveria ser um telhado e de como deveria funcionar. Os clientes tendem a preferir telhados vivos que sejam de fácil manutenção e se mantenham verdes durante o ano todo, gramados perpétuos junto ao céu, e não um matagal que varia conforme as estações. Já construtores e arquitetos preferem soluções intercambiáveis, padronizadas e universais, o tipo de biocobertura hoje oferecido por algumas das grandes empresas no setor de ecotelhados.

Uma cobertura ecológica, porém, não é apenas alternativa orgânica para um telhado morto. Ela pede uma maneira de pensar distinta. Uma cobertura viva padronizada, como um tapete de erva-pinheira, é melhor que um telhado convencional, mas é possível instalar biocoberturas que sejam ainda mais benéficas ao ambiente. O objetivo dos pesquisadores é achar formas de construir telhados vivos que sejam, sob todos os aspectos, benéficos em termos ecológicos e sociais: com baixo custo ambiental e acessíveis ao maior número de pessoas.

O cientista suíço Stephan Brenneisen resume o desafio: "Trata-se de encontrar soluções simples e baratas com materiais da própria região". Isso significa um uso menor, entre a laje de cobertura do prédio e as próprias plantas, de plástico e outros materiais cuja produção demanda muita energia. Não se trata apenas de viabilizar os telhados ecológicos. É preciso fazer isso do modo mais sustentável possível, consumindo pouca energia e criando o máximo benefício aos hábitats humanos e não-humanos.

No outono passado, subi até o telhado do Portland Building, um edifício de 15 andares no centro de Portland, no Oregon. Quem me serviu de guia foi o gerente do Programa Municipal de Ecotelhados, Tom Liptan, um fascinado por enxurradas e chuvas fortes, que começou seus experimentos com telhados verdes ao construir um sobre sua garagem, em 1996. Caminhando entre ervas-pinheiras e fescutas, fomos até o parapeito e de lá contemplamos, andares abaixo, o telhado da prefeitura municipal. Era uma cobertura convencional com manta asfáltica, o tipo de telhado com o qual convivemos há décadas. No entanto, como parte do projeto Do Cinza ao Verde, de Portland - voltado para o manejo sustentável das águas de chuva -, o prédio da prefeitura logo terá o seu telhado ecológico. "Os funcionários querem isso", comentou Liptan.

Na história daquele prédio municipal, quantas vezes as pessoas que ali trabalhavam pensaram a respeito da cobertura asfáltica pairando sobre a cabeça? Quando o telhado verde estiver pronto, é possível que o visitem apenas de vez em quando, mas não vão se esquecer de que ele está presente ali em cima. Que ele aumenta a área verde no centro da cidade, filtra a água da chuva e contribui para arrefecer a temperatura. Isso me lembrou algo dito por Stephan Brenneisen: "As pessoas sentem-se mais felizes em um edifício no qual devolvemos algo à natureza".

Imagine os milhões de hectares de telhados estéreis em todo o planeta. Agora imagine parte dessa área sendo devolvida à natureza - com espaços verdes surgindo onde antes havia asfalto e cascalho. Se uma módica felicidade humana é o efeito colateral, quem vai se opor a isso?
Acima de tudo, os telhados ecológicos são habitáveis. Eles recuperam um espaço hoje desperdiçado e o transforma em uma rede de ilhas verdes elevadas que se conectam com as áreas de vegetação externas às manchas urbanas. Espécies de todos os tamanhos - formigas, aranhas, besouros, maçaricos, corvos - passam a frequentá-los. Em Zurique, na Suíça, uma cobertura ecológica de 95 anos é um refúgio para nove espécies de orquídea, as quais haviam sido erradicadas dos campos em torno da cidade quando foram transformados em áreas agrícolas.

Os defensores das biocoberturas argumentam que já resolveram a maioria, se não todos, dos desafios técnicos levantados com a introdução de uma camada biológica no topo dos edifícios, seja qual for a dimensão da área. Embora o custo médio de instalação de um telhado ecológico seja de duas a três vezes maior que o de um telhado convencional, ele sai mais barato no longo prazo, em função sobretudo da economia de energia. A vegetação também protege a cobertura da radiação ultravioleta, aumentando sua vida útil. E requer cuidados específicos, similares à manutenção mínima de um jardim.

Para a difusão desse tipo de cobertura, ainda resta, porém, superar desafios filosóficos, vários dos quais relativos à própria concepção do que deveria ser um telhado e de como deveria funcionar. Os clientes tendem a preferir telhados vivos que sejam de fácil manutenção e se mantenham verdes durante o ano todo, gramados perpétuos junto ao céu, e não um matagal que varia conforme as estações. Já construtores e arquitetos preferem soluções intercambiáveis, padronizadas e universais, o tipo de biocobertura hoje oferecido por algumas das grandes empresas no setor de ecotelhados.

Uma cobertura ecológica, porém, não é apenas alternativa orgânica para um telhado morto. Ela pede uma maneira de pensar distinta. Uma cobertura viva padronizada, como um tapete de erva-pinheira, é melhor que um telhado convencional, mas é possível instalar biocoberturas que sejam ainda mais benéficas ao ambiente. O objetivo dos pesquisadores é achar formas de construir telhados vivos que sejam, sob todos os aspectos, benéficos em termos ecológicos e sociais: com baixo custo ambiental e acessíveis ao maior número de pessoas.

O cientista suíço Stephan Brenneisen resume o desafio: "Trata-se de encontrar soluções simples e baratas com materiais da própria região". Isso significa um uso menor, entre a laje de cobertura do prédio e as próprias plantas, de plástico e outros materiais cuja produção demanda muita energia. Não se trata apenas de viabilizar os telhados ecológicos. É preciso fazer isso do modo mais sustentável possível, consumindo pouca energia e criando o máximo benefício aos hábitats humanos e não-humanos.

No outono passado, subi até o telhado do Portland Building, um edifício de 15 andares no centro de Portland, no Oregon. Quem me serviu de guia foi o gerente do Programa Municipal de Ecotelhados, Tom Liptan, um fascinado por enxurradas e chuvas fortes, que começou seus experimentos com telhados verdes ao construir um sobre sua garagem, em 1996. Caminhando entre ervas-pinheiras e fescutas, fomos até o parapeito e de lá contemplamos, andares abaixo, o telhado da prefeitura municipal. Era uma cobertura convencional com manta asfáltica, o tipo de telhado com o qual convivemos há décadas. No entanto, como parte do projeto Do Cinza ao Verde, de Portland - voltado para o manejo sustentável das águas de chuva -, o prédio da prefeitura logo terá o seu telhado ecológico. "Os funcionários querem isso", comentou Liptan.

Na história daquele prédio municipal, quantas vezes as pessoas que ali trabalhavam pensaram a respeito da cobertura asfáltica pairando sobre a cabeça? Quando o telhado verde estiver pronto, é possível que o visitem apenas de vez em quando, mas não vão se esquecer de que ele está presente ali em cima. Que ele aumenta a área verde no centro da cidade, filtra a água da chuva e contribui para arrefecer a temperatura. Isso me lembrou algo dito por Stephan Brenneisen: "As pessoas sentem-se mais felizes em um edifício no qual devolvemos algo à natureza".

Imagine os milhões de hectares de telhados estéreis em todo o planeta. Agora imagine parte dessa área sendo devolvida à natureza - com espaços verdes surgindo onde antes havia asfalto e cascalho. Se uma módica felicidade humana é o efeito colateral, quem vai se opor a isso?

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