domingo, 22 de agosto de 2010

Com vagões já nos trilhos, metrô de Salvador só entra em operação no ano que vem


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Os trens do Metrô de Salvador foram retirados do depósito em Simões Filhos na quinta-feira (19); eles estavam armazenados no local desde 2008

Após uma década de espera, a população da capital baiana assistiu na última sexta-feira (20) ao posicionamento sobre os trilhos dos primeiros quatro vagões do metrô de Salvador. Outros 20 serão posicionados até o final dessa semana. Entretanto, os equipamentos ainda precisarão passar por uma fase de testes, que se iniciará no mês de setembro e, segundo a prefeitura, se tudo estiver em ordem, o metrô começa a funcionar no próximo ano, em data ainda a ser definida.

Desde 2008, os 24 vagões adquiridos pelo governo do Estado estavam armazenados na Estação Aduaneira do Interior (Eadi), no município vizinho de Simões Filho.

O secretário de infraestrutura da prefeitura, Euvaldo Jorge, acredita que no primeiro semestre de 2011 a população possa começar utilizar o metrô comercialmente. “Precisamos ter a garantia de que os trens estarão prontos. Não podemos dizer agora o dia. Só depois de tudo pronto. Esperamos que seja até o final do primeiro semestre”, disse. Conforme o secretário, a fase agora diz respeito às revisões elétrica e mecânica de cada vagão.

Os equipamentos foram adquiridos por meio de empréstimo do Banco do Brasil, no valor de aproximadamente US$ 50 milhões. Cada um dos seis trens possui quatro vagões (dois do tipo reboque e dois do tipo motor), com capacidade para até 1.250 passageiros.

Histórico de atrasos
O início das obras do metrô de Salvador começou há dez anos, sob responsabilidade do consórcio Metrosal, formado pelas empresas Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e Siemens. O cronograma previa a construção de 12 quilômetros, na primeira etapa do projeto, que deveria estar concluída em quatro anos.

Desde então, sucessivas suspensões da obra foram determinas pela Justiça devido a suspeitas de irregularidades, incluindo superfaturamento. Também as greves dos trabalhadores prejudicaram o andamento dos trabalhos.

Durante esses anos, o projeto original passou por um processo de reformulação que o reduziu à metade a meta de construção, resumindo-se a seis quilômetros. As obras já consumiram cerca de R$ 1 bilhão dos cofres públicos, quando a previsão era de R$ 400 milhões para todo o percurso de 12 quilômetros – que ligava o centro da cidade aos bairros de Pau da Lima e Pirajá, dois dos mais populosos da capital.

“A população que mora no subúrbio e que mais necessita desse tipo de transporte não será completamente atendida. Terá que ficar pela metade do caminho”, comenta Paulo Roberto Silva dos Santos, secretário-geral do Sindicato da Indústria Pesada, que congrega os trabalhadores do metrô.

“Pelo menos que eu tenha conhecimento, não existe outro [metrô] com essa extensão [de seis quilômetros]. Além de todo esse atraso, só se faz pela metade. É mesmo um absurdo. Só aqui na Bahia”, afirma.

Especialista em Políticas de Planejamento de Transportes, a professora da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Cira Souza Pitombo, concorda com Santos.

Segundo ela, o atual projeto, além de não atender a população, não resolverá os problemas provocados pela crescente frota de automóveis e motocicletas, que torna cada vez mais caótico o trânsito na capital baiana. Pitombo ressalta que, para a operacionalização a contento dessa primeira linha do metrô, será necessário um projeto de integração com os ônibus da região atendida, “muito eficiente”, do contrário, não funcionará.

No entendimento da professora, mesmo o projeto original, com todas as suas etapas concluídas, prevendo a abrangência de 40 km, hoje já estaria obsoleto. “O trânsito em Salvador na atualidade é completamente diferente do que existia há dez anos”, diz ela, observando que o grande desafio do momento é oferecer um transporte público de qualidade, que motive os donos de carros a deixarem os seus veículos em casa.

Para isso, ressalta, o metrô teria que atender à clientela cativa do transporte coletivo e a essa outra que anda de carro. “Se a primeira etapa fosse concluída na íntegra, já não proporcionaria esse resultado, quanto mais sendo apenas seis quilômetros.”

A professora chama ainda atenção para o custo benefício de uma linha tão curta. “O subsídio de uma tarifa de metrô para percorrer apenas seis quilômetros terá que ser muito alto”, garante.

Embora a metade da primeira etapa ainda não esteja completamente finalizada, os governos estadual e municipal planejam a conclusão dos 12 quilômetros para a Copa do Mundo de 2014.